A árvore da liberdade
A Formação da Classe Operária Inglesa é
uma obra dividida em três volumes, A
árvore da Liberdade, A maldição de Adão e A força dos trabalhadores, onde o autor dedica-se de maneira
intensa a descrever o processo de construção, de reconhecimento e identificação
da classe trabalhadora na Inglaterra. E.
P. Thompson, utilizando o conceito de classe marxista onde do ponto de vista
histórico para que haja o reconhecimento de uma classe social dois fatores são necessários:
a consciência e a identidade. A consciência é o item de maior importância para
a identificação da classe, ou seja, a classe não está constituída de acordo com
um dado estatístico salarial, com base em quanto o sujeito ganha anualmente, como
observamos dentro do ponto de vista econômico mundial vivido por nós hoje, e
sim pela consciência que o sujeito tem em relação a sua classe social, como ele
se identifica, quais são suas origens e seus aspectos culturais. Marx
considerou a burguesia revolucionária, do ponto de vista que ela implantou o
modo econômico capitalista, superando o antigo sistema medieval em que o
trabalhador estava preso à terra e ao seu proprietário, criando um novo modo de
vida que se sustenta com base no detrimento da classe trabalhadora. Esta classe
por sua vez, a partir do momento em que se reconhece, passa a ter ação política
dentro do processo histórico industrial capitalista inglês, constituindo-se
então verdadeiramente como classe. Dessa forma para entender o processo de
formação da classe trabalhadora inglesa, Thompson analisa todas as estruturas e
todos os aspectos que vão constituir essa categoria social, e como elas surgem
no decorrer do século 19 logo após as revoluções burguesas, adquirindo direitos
dentro do espaço político. Dentro da sua análise ele demonstra que não é
possível trabalhar com generalizações quando tentamos entender como a classe se
forma, percorrendo aspectos relevantes ligados aos primeiros movimentos e as
primeiras organizações políticas, dentro de uma sociedade complexa e regimentada
por tradições baseadas em direitos adquiridos através do costume e da moral
inglesa. Para Thompson a questão da identidade está ligada a cultura e a consciência
está ligada a luta política, dentro dessa abordagem marxista, ele busca os
atores da formação histórica da classe operária inglesa, quais são os fatores
culturais, as lutas religiosas e os enfrentamentos com o Estado, demonstrando como
não é possível trabalhar com generalizações porque a classe operária não é um
bloco único, sem diferenças culturais.
Com
um capítulo tratando exclusivamente sobre a questão religiosa inglesa, onde os
dissidentes foram impedidos por um longo período de participar da vida pública
e como ao longo do século passam a trabalhar pelas suas liberdades civis e
religiosas. A
obra evangelizadora, analisada pelo autor, também revela uma considerável parcela
da população de pobres, com características diversas. No capítulo três, As Fortalezas de Satanás, observamos que
as diversas camadas sociais que constituem as frações do proletariado, onde os
sujeitos que orbitam sem profissão e formam o excedente da força de trabalho no final do século
18 e constituíam dentro do julgo da dissidência religiosa, os pobres de cristo,
pecadores penitentes, assassinos, bêbados e ladrões. Mas que dentro do viés de
classe esse comportamento “criminoso” revela na verdade os meios diversos que a
população excedente encontrou, fora dos meios legais e do sistema capitalista
de trabalho, para se manter. Os falsos moedeiros, agentes lotéricos, parasitas
às margens do rio ou as diversas personalidades pitorescas como os garotos da
sarjeta, caçadores de briga, marreteiros, cocheiros de ocasião, idiotas...
(P.57), que somavam ao todo cento e quinze mil habitantes dentro de uma
população estimada em cerca de um milhão, representavam uma parcela considerável da população e uma minoria que sem
linguagem política poderiam ter suas ações e participações no processo de formação da classe facilmente esquecidos.
Pensando
a questão da formação da classe operária e todo o exaustivo trabalho do autor
para entender os processos que levam os trabalhadores ingleses a se identificarem
como classe e se reconhecerem dentro dos aspectos culturais, sociais e econômicos
elevando a categoria trabalhadora a uma real consciência de classe e levando em
consideração que a obra se passa dentro do contexto das revoluções burguesas na
Inglaterra, período que será abordado dentro dos assuntos que serão tratados em
sala de aula, nas turmas de Ensino Médio do segundo ano da Escola Estadual
Melvin Jones, é de extrema importância mas que devido a complexidade da obra, não é recomendado para
leitura em sala de aula. Entretanto a análise é fundamental para a pesquisa
do professor, que deve entender as complexidades desse período revolucionário
não apenas na Europa, mas em todo o mundo, inclusive no Brasil, e que ainda ditam as normas
e regras do plano político, social e econômico que vivemos atualmente. A obra também pode ser utilizada pelo professor no auxílio da elaboração de conteúdos que se
proponham a traçar um panorama entra as diferenças constituintes de uma sociedade
que desponta de maneira vantajosa na nova organização econômica e como isso reflete nos processos
políticos de independências e substituição de força de trabalho nas colônias americanas,
e como esses países são inseridos dentro da nova organização mundial
capitalista, deixando de serem colônias de exploração para tornarem-se repúblicas
periféricas. O professor além de elaborar tais conteúdos, também poderá propor atividades de pesquisa para
identificar quem são os agentes e os atores dentro do processo de formação das
classes trabalhadoras e os diversos segmentos de classe nos países latinos e
americanos.
THOMPSON,
E. P. A Formação da Classe Operária
Inglesa; tradução Denise Bottmann. - Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
Tradução
de: The making of the english
working class.