No último dia 28 (quarta-feira), os pibidianos Anderson, Diuliane, Erick e Fernanda participaram do conselho de classe da EETCS como observadores. Uma experiência enriquecedora para o grupo, uma vez que inédita para cada um de nós. Chegamos junto com nossa supervisora, Kelen, já na metade da segunda turma que estamos trabalhando. Sentamos fora da mesa dos professores e ficamos observando, por algumas horas.
Acredito que o conselho de classe seja talvez o ambiente de maior desconforto na carreira docente, a começar, certamente, pela burocracia. Notas foram cantadas, vidas discutidas, punições definidas. Para isso basearam-se em listas de chamada, fichas com dados pessoais, fotos 3x4, redes sociais, relatos e opiniões que foram compartilhados enquanto a cuia de chimarrão segue seu curso. O conselho tornou-se, objetivamente, um júri onde decidiu-se a pena que o estudante devia sofrer: se será chamado à direção, se seus pais serão chamados, se a conversa pode esperar para a entrega de boletins, se terá seu lugar alterado no espelho de classe, se acabará repetindo de ano. Alunos foram classificados como bons ou ruins, de forma maniqueísta.
As relações de poder são latentes e conturbadas. Entre gestão e professores, entre coordenação pedagógica e professores, entre professores de uma área e outra, entre professores e pibidianos, entre professores e estagiários, entre professores mais velhos e professores mais novos, entre professores que estão há mais tempo na escola e professores que acabaram de chegar, entre professores e professoras. Durante o nosso período de observação, não havia representantes dos alunos ou dos pais. A voz do corpo discente aparecia apenas nos registros dos pré-conselhos, feitos de forma extremamente resumida e objetiva pelos professores conselheiros de cada turma anteriormente. A leitura desses documentos antecedeu o conselho a cada nova turma.
Para alguém que se identifique com ideais libertários de educação, certamente o conselho de classe parece ser um processo doloroso. Embora legalmente (ainda) haja espaços para a prática docente libertária, percebe-se o enrijecimento de alguns membros do professorado, limitados a um exercício narcísico de "subir no palco" e "passar a verdade" a uma classe enfileirada, uniformizada e passiva. Diante disso, qualquer estudante que decida expressar sua insatisfação com esse sistema em fones de ouvido, sono, comportamentos reprováveis, más notas, será culpabilizado e punido. Há professores que dão braçadas contra a corrente. Na maioria das vezes, estes foram silenciados ou silenciosos voluntários, provavelmente visando a preservação de um clima minimamente amistoso em torno da mesa.
De toda forma, o choque que vivemos ao assistir a essa realidade talvez seja necessário. Estamos distantes de uma escola libertária. Se muito por força de interesses de um sistema autoritário, também pela colaboração dos agentes dessa política pública que colaboram para que o modelo de ensino permaneça o mesmo e que as decisões sobre o futuro da educação do país sejam deliberadas por pessoas distantes da sala de aula, sem combatividade.
Dessa forma, Cordeiro e Pires sintetizam o que quero dizer no trecho seguinte:
"Nesse fluxo, professores-padrão fomentando a criação de alunos-padrão são uma constante facilmente verificável: o professor não se permite (não quer e muitas vezes nem pode) transcender os territórios estipulados. Assim como os alunos, esse professor-padrão também pensa dentro das grades que lhes são impostas, e que ajuda a (re)produzir e reforçar, grades inclusive curriculares, e de toda sorte, que influem sobre cada parte do todo, instituindo uma atmosfera pesada, sufocante, carregada de um poder que aprisiona e controla corpos e mentes, sutilmente ou não."¹
Parabéns a todxs xs professorxs.
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